ATUALIDADES

  • Ditadura militar: Grandes obras e truculência policial são heranças do regime

  • Em 10/05/2014

  • O general e presidente do Brasil Ernesto Geisel recebe cumprimentos em forma de continência de militar
    O general e presidente do Brasil Ernesto Geisel recebe cumprimentos em forma de continência de militar
O Golpe Militar instaurado no Brasil em 1964 completa 50 anos em 2014. Ao longo de 21 anos em que estiveram no poder, os militares deixaram marcas que permanecem presentes, principalmente em três áreas: infraestrutura, com a construção de obras grandiosas; educação, com a falta de investimentos na área pública, aumentando o abismo entre escolas públicas e as particulares; e na forma de atuação da polícia.

Obras grandiosas

O regime investiu num modelo desenvolvimentista marcado por empresas estatais e obras públicas gigantescas nas áreas de transporte, energia e estratégia militar, que buscavam a soberania do Brasil.
Apelidadas de “obras faraônicas” pela imprensa da época, neste período foram construídas a rodovia Transamazônica (BR-230), as hidrelétricas de Tucuruí, Balbina e Itaipu (a maior do Brasil), a ponte Rio-Niterói, as usinas nucleares de Angra, a Ferrovia do Aço e o projeto de minério de ferro de Carajás e de celulose de Jari.
A Transamazônica, que nunca foi terminada, deveria promover a ligação entre a fronteira peruana com o Atlântico e a ocupação da Amazônia, no que seria “a mais gigantesca via terrestre pioneira em construção no mundo”. A usina de Itaipu foi até 2008, a maior hidrelétrica do mundo. Já a ponte Rio-Niterói foi considerada na época um símbolo de modernidade e a mais longa ponte do planeta construída em vigas caixão. O regime tinha como lema o “Brasil Grande” e queria promover uma imagem de progresso nacional.
A atual construção da Hidrelétrica de Belo Monte é a retomada de um projeto apresentado nos anos 1970, chamado de Hidrelétrica de Kararaô, nome dado em alusão a uma aldeia no rio Iriri, e que previa a construção de seis grandes usinas ao longo do rio Xingu. Sem recursos próprios e devido a pressões dos índios e da comunidade internacional, o projeto foi abandonado.
Chamado de Milagre Econômico, esse período da ditadura militar brasileira foi caracterizado por um expressivo crescimento econômico do país, especialmente entre 1969 e 1973, no governo do presidente Emílio Médici. Por outro lado, o alto investimento aumentou o endividamento externo do Brasil, o que ajudou a pavimentar o período de recessão e inflação dos anos 1980.
Em 1984, o Brasil devia aos governos e bancos estrangeiros o equivalente a 53,8% de seu PIB (Produto Interno Bruto). Os pagamentos da dívida só foram regularizados em 1994, já no período democrático, após um acordo com os credores para reduzir o montante devido e os juros.

Milagre brasileiro: grandes obras, propaganda e seleção embalam o país na década de 197010 fotos

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Entre 1968 e 1973, o Brasil viveu anos de crescimento econômico e modernização. A economia brasileira registrava taxas de crescimento entre 7% e 13% ao ano. O setor industrial se expandia e as exportações agrícolas aumentaram significativamente gerando milhões de novos postos de trabalho. O período ficou conhecido como o "milagre econômico". Na foto de 1970, ferragens usadas na construção do elevado Presidente Costa e Silva em São Paulo --o "Minhocão" Acervo UH/Folhapress

Violência da Polícia Militar

A PM (Polícia Militar) é uma das principais forças de segurança das cidades brasileiras. No entanto, os métodos utilizados pela PM são muitas vezes associados à truculência e violência. E para especialistas, a cultura violenta da PM é um dos resquícios da ditadura.
Quando os militares assumiram o poder no Brasil, sob o pretexto de manter a segurança interna e eliminar o perigo do comunismo, o Estado aumentou o autoritarismo e a repressão, criando órgãos de controle da informação, como o SNI (Sistema Nacional de Informações).
Em 1969, foi criada a Lei de Segurança Nacional, que restringia a liberdade de reunião, associação e de imprensa, e em 1970 foi criado o DOI-Codi, centro de repressão do Exército conhecido como “sucursal do inferno”, palco de torturas e desaparecimento de presos políticos e “suspeitos de subversão”.
Naquela época, a PM foi usada como extensão dos órgãos de repressão da ditadura e o uso da violência e a tortura se tornaram rotina e práticas autorizadas pelo Estado. A polícia de São Paulo foi uma das primeiras a ser militarizada logo depois do golpe, com a imediata incorporação e comando da PM pelas Forças Armadas.
Nos anos 1960, surgiu também em São Paulo o temido “Esquadrão da Morte”, um grupo de extermínio de origem policial. Em 1966, quando ainda era chamada de Força Pública do Estado de São Paulo, a PM teve como comandante o coronel João Baptista de Figueiredo, o mesmo que mais tarde encerraria a era de presidentes militares com mandato entre 1979 e 1985.
No início dos anos de 1970, a PM paulista criaria uma unidade especial, a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), que surgiu para combater a guerrilha urbana e as ações praticadas pela esquerda armada. Nas décadas seguintes, a Rota seria alvo de denúncias de tortura e assassinatos contra criminosos comuns e de jovens sem antecedentes criminais.
Por outro lado, os “Direitos Humanos” passaram a ser vistos como ideologicamente filiados à esquerda e depois passaram a ser vistos como “defensores de bandidos”. Incentivar as corporações a adotar uma cultura de direitos humanos

Educação

Durante os anos do regime militar, a educação brasileira passou por transformações em seu currículo, que passou a exaltar o nacionalismo. 
Ainda no governo do presidente João Goulart, especialistas em educação como Anísio Teixeira e Paulo Freire foram nomeados para retrabalhar a alfabetização e pensar em como oferecer uma educação de qualidade no ensino público brasileiro. Essas novas diretrizes da educação constavam no PNA (Plano Nacional de Alfabetização), extinto após a deposição de Jango, com o Golpe Militar.
No mesmo ano, nas universidades, a ditadura militar considerou ilegal a UNE (União Nacional dos Estudantes) e criou os Diretórios Acadêmicos, restritos a cada curso, e o Diretório Central dos Estudantes. Com isso, o governo eliminava a representação a nível nacional dos estudantes, bem como qualquer tentativa de ação e organização política.
Durante a ditadura aconteceram, ao menos, duas reformas educacionais. Uma em 1968, nas universidades, e em 1971 no ensino básico, quando foram criadas disciplinas como Organização Social e Política Brasileira e Educação Moral e Cívica.
A expansão da educação pública veio acompanhada de intensa privatização do ensino, fazendo com que as escolas particulares ficassem cada vez mais desejadas pelas famílias brasileiras. No caso do ensino superior, o crescimento do setor privado fez com que as vagas em instituições particulares se tornassem majoritárias após o período da ditadura militar.
A forte repressão política e ideológica fez com que muitas escolas de segundo grau e campus universitários fossem invadidas por tropas militares, com a prisão, demissão e exílio de estudantes e professores. A perseguição se intensificou a partir do Ato Institucional Nº 5, de 1968, que possibilitou a punição severa dos chamados “agitadores” que incomodavam os militares.

Ebola: População africana enfrenta nova epidemia do vírus

Em 10/05/2014
O vírus ebola voltou a preocupar autoridades africanas e de saúde após um novo surtoter sido identificado no início deste ano em Guiné, onde mais de 100 pessoas teriam morrido vítimas do vírus. Isso sem contar os casos suspeitos no Mali, Serra Leoa e Libéria, todos países da África Ocidental.
Considerado um dos vírus mais perigosos, a febre hemorrágica ebola é fatal em 90% dos casos, pois não há cura nem vacina para combatê-lo. A violência com que o vírus ataca o corpo humano deve-se a uma proteína que rompe as paredes dos vasos sanguíneos, provocando hemorragia interna e externa.
Após uma incubação de dois a 21 dias, o vírus provoca uma forte febre, com dores de cabeça e musculares, conjuntivite e fraqueza generalizada. Em um segundo momento, os sintomas são vômitos, diarreia e, às vezes, erupção cutânea. A transmissão ocorre por vias respiratórias ou por contato com fluidos corporais das pessoas infectadas, como o sangue.
O ebola é um filovírus (da família Filoviridae), nome dado ao vírus particularmente mortal para o organismo humano. Foi identificado pela primeira vez em 1976, após algumas epidemias graves em Nzara, província oeste-equatorial do Sudão, e em Yambuku, região vizinha no norte da República Democrática do Congo (antigo Zaire) e próxima ao rio Ebola, que deu nome doença.

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MALÁRIA: Quando os mosquitos infectados se alimentam do sangue humano, eles transmitem os protozoários que causam a doença. Uma vez no sangue, eles crescem dentro dos glóbulos vermelhos, destruindo-os. Anualmente, entre 350 e 500 milhões de casos de malária ocorrem na África subsaariana. Desses casos, mais de 1 milhão resultam em morte Leia mais Thinkstock/Getty Images
Desde a sua descoberta, já foram identificados cerca de 2.000 casos, sendo 1.300 fatais. A última epidemia do vírus registrou mais de 400 casos e matou 224 pessoas em Uganda, entre outubro de 2000 e março de 2001. No fim de 2007, mais de 100 pessoas foram infectadas com o vírus no país.
Até agora, todos os casos do ebola em humanos foram registrados na África. No caso dos animais, em 1989 e 1990, um filovírus designado Ebola-Reston foi isolado em macacos mantidos em quarentena nos laboratórios americanos de Reston (Virgínia), Alice (Texas) e na Pensilvânia, nos EUA. O mesmo filovírus foi identificado em macacos em quarentena nas Filipinas, perto de Manila, prontos para serem exportados. Alguns dos macacos morreram e pelo menos quatro pessoas foram infectadas, embora não tenham tido problemas clínicos.
Em 2000, mais de 300 gorilas morreram vítimas de um surto de ebola, no noroeste do Congo, na África. Na época, o país também registrava casos entre humanos. Entre 1990 e 2000, o número de chimpanzés e gorilas foi drasticamente reduzido nos parques da região africana. Pesquisadores acreditam que muitos doentes, para evitar a internação, podem ter procurado abrigo nos parques e, após sua morte, serviram de alimentos para os animais, que acabaram contaminados.
Embora não haja cura, pesquisadores continuam desenvolvendo medicamentos para tratar o ebola. Em outubro de 2012 um “coquetel” de anticorpos denominado MB-003 foi testado em animais expostos aos vírus. O coquetel atua inativando o vírus e estimulando o sistema imunológico a eliminar as células infectadas. O resultado foi positivo nos macacos que haviam sido expostos em até uma hora ao vírus.

Ebola é vírus raro no oeste da África

Na epidemia atual, chamou atenção o fato de serem raros os casos de ebola no oeste da África, mais comuns na região central e no leste do continente. O primeiro e último caso na África Ocidental aconteceu em 1994, na Costa do Marfim, quando um cientista contraiu o vírus após ter contato com chimpanzés infectados.
Por esse motivo, a OMS (Organização Mundial da Saúde) alertou que o atual surto epidêmico de ebola na África Ocidental está entre os "mais assustadores" desde o aparecimento da doença, há 40 anos. A disseminação do vírus preocupa, pois pode estar se propagando em direção Conacri, capital da República da Guiné, e ao país vizinho, Libéria, o que seria preocupante.
Os hospedeiros naturais do vírus são os morcegos frugívoros (cuja alimentação é basicamente de frutas), mas gorilas e chimpanzés também são tidos como transmissores do ebola por meio da ingestão de frutas nas quais os morcegos salivaram ou defecaram.
No caso dos humanos, o contágio pode acontecer quando comemos estes animais, o que é comum na África. Para cientistas, foi desta forma que o ebola se alastrou pela região.
Além disso, um fator cultural pode contribuir para o contágio ser mais comum na África: a tradição de lavar os corpos dos mortos durante a preparação para o enterro. Como o corpo da vítima do ebola permanece contagioso mesmo depois da morta, dependendo do contato tido com a vítima, o vírus pode ser transmitido. Por isso, as vítimas devem ser rapidamente enterradas ou cremadas.

DIRETO AO PONTO

O vírus ebola voltou a preocupar autoridades africanas e de saúde após um novo surto ter sido identificado no início deste ano em Guiné, onde mais de 100 pessoas teriam morrido. Isso sem contar os casos suspeitos no Mali, Serra Leoa e Libéria, todos países da África Ocidental.

Os casos de ebola nessa região da África são raros, sendo mais incidentes na região central e no leste do continente. Por isso, a OMS (Organização Mundial da Saúde) alertou que o atual surto epidêmico de ebola na África Ocidental está entre os "mais assustadores" desde o aparecimento da doença, há 40 anos.

Desde a descoberta do vírus, em 1976, já foram identificados cerca de 2.000 casos, sendo 1.300 fatais. A última epidemia do vírus registrou mais de 400 casos e matou 224 pessoas em Uganda, entre outubro de 2000 e março de 2001. No fim de 2007, mais de 100 pessoas foram infectadas com o vírus no país. Todos os casos em humanos só foram registrados na África. A febre hemorrágica do ebola é considerada fatal em 90% dos casos, já que não tem cura ou vacina.

Ditadura militar: Grandes obras e truculência policial são heranças do regime.

em 03/05/2014

O Golpe Militar instaurado no Brasil em 1964 completa 50 anos em 2014. Ao longo de 21 anos em que estiveram no poder, os militares deixaram marcas que permanecem presentes, principalmente em três áreas: infraestrutura, com a construção de obras grandiosas; educação, com a falta de investimentos na área pública, aumentando o abismo entre escolas públicas e as particulares; e na forma de atuação da polícia.

Obras grandiosas
O regime investiu num modelo desenvolvimentista marcado por empresas estatais e obras públicas gigantescas nas áreas de transporte, energia e estratégia militar, que buscavam a soberania do Brasil.
Apelidadas de “obras faraônicas” pela imprensa da época, neste período foram construídas a rodovia Transamazônica (BR-230), as hidrelétricas de Tucuruí, Balbina e Itaipu (a maior do Brasil), a ponte Rio-Niterói, as usinas nucleares de Angra, a Ferrovia do Aço e o projeto de minério de ferro de Carajás e de celulose de Jari.
A Transamazônica, que nunca foi terminada, deveria promover a ligação entre a fronteira peruana com o Atlântico e a ocupação da Amazônia, no que seria “a mais gigantesca via terrestre pioneira em construção no mundo”. A usina de Itaipu foi até 2008, a maior hidrelétrica do mundo. Já a ponte Rio-Niterói foi considerada na época um símbolo de modernidade e a mais longa ponte do planeta construída em vigas caixão. O regime tinha como lema o “Brasil Grande” e queria promover uma imagem de progresso nacional.
A atual construção da Hidrelétrica de Belo Monte é a retomada de um projeto apresentado nos anos 1970, chamado de Hidrelétrica de Kararaô, nome dado em alusão a uma aldeia no rio Iriri, e que previa a construção de seis grandes usinas ao longo do rio Xingu. Sem recursos próprios e devido a pressões dos índios e da comunidade internacional, o projeto foi abandonado.
Chamado de Milagre Econômico, esse período da ditadura militar brasileira foi caracterizado por um expressivo crescimento econômico do país, especialmente entre 1969 e 1973, no governo do presidente Emílio Médici. Por outro lado, o alto investimento aumentou o endividamento externo do Brasil, o que ajudou a pavimentar o período de recessão e inflação dos anos 1980.
Em 1984, o Brasil devia aos governos e bancos estrangeiros o equivalente a 53,8% de seu PIB (Produto Interno Bruto). Os pagamentos da dívida só foram regularizados em 1994, já no período democrático, após um acordo com os credores para reduzir o montante devido e os juros.

Violência da Polícia Militar

A PM (Polícia Militar) é uma das principais forças de segurança das cidades brasileiras. No entanto, os métodos utilizados pela PM são muitas vezes associados à truculência e violência. E para especialistas, a cultura violenta da PM é um dos resquícios da ditadura.
Quando os militares assumiram o poder no Brasil, sob o pretexto de manter a segurança interna e eliminar o perigo do comunismo, o Estado aumentou o autoritarismo e a repressão, criando órgãos de controle da informação, como o SNI (Sistema Nacional de Informações).
Em 1969, foi criada a Lei de Segurança Nacional, que restringia a liberdade de reunião, associação e de imprensa, e em 1970 foi criado o DOI-Codi, centro de repressão do Exército conhecido como “sucursal do inferno”, palco de torturas e desaparecimento de presos políticos e “suspeitos de subversão”.
Naquela época, a PM foi usada como extensão dos órgãos de repressão da ditadura e o uso da violência e a tortura se tornaram rotina e práticas autorizadas pelo Estado. A polícia de São Paulo foi uma das primeiras a ser militarizada logo depois do golpe, com a imediata incorporação e comando da PM pelas Forças Armadas.
Nos anos 1960, surgiu também em São Paulo o temido “Esquadrão da Morte”, um grupo de extermínio de origem policial. Em 1966, quando ainda era chamada de Força Pública do Estado de São Paulo, a PM teve como comandante o coronel João Baptista de Figueiredo, o mesmo que mais tarde encerraria a era de presidentes militares com mandato entre 1979 e 1985.
No início dos anos de 1970, a PM paulista criaria uma unidade especial, a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), que surgiu para combater a guerrilha urbana e as ações praticadas pela esquerda armada. Nas décadas seguintes, a Rota seria alvo de denúncias de tortura e assassinatos contra criminosos comuns e de jovens sem antecedentes criminais.
Por outro lado, os “Direitos Humanos” passaram a ser vistos como ideologicamente filiados à esquerda e depois passaram a ser vistos como “defensores de bandidos”. Incentivar as corporações a adotar uma cultura de direitos humanos

Educação

Durante os anos do regime militar, a educação brasileira passou por transformações em seu currículo, que passou a exaltar o nacionalismo. 
Ainda no governo do presidente João Goulart, especialistas em educação como Anísio Teixeira e Paulo Freire foram nomeados para retrabalhar a alfabetização e pensar em como oferecer uma educação de qualidade no ensino público brasileiro. Essas novas diretrizes da educação constavam no PNA (Plano Nacional de Alfabetização), extinto após a deposição de Jango, com o Golpe Militar.
No mesmo ano, nas universidades, a ditadura militar considerou ilegal a UNE (União Nacional dos Estudantes) e criou os Diretórios Acadêmicos, restritos a cada curso, e o Diretório Central dos Estudantes. Com isso, o governo eliminava a representação a nível nacional dos estudantes, bem como qualquer tentativa de ação e organização política.
Durante a ditadura aconteceram, ao menos, duas reformas educacionais. Uma em 1968, nas universidades, e em 1971 no ensino básico, quando foram criadas disciplinas como Organização Social e Política Brasileira e Educação Moral e Cívica.
A expansão da educação pública veio acompanhada de intensa privatização do ensino, fazendo com que as escolas particulares ficassem cada vez mais desejadas pelas famílias brasileiras. No caso do ensino superior, o crescimento do setor privado fez com que as vagas em instituições particulares se tornassem majoritárias após o período da ditadura militar.
A forte repressão política e ideológica fez com que muitas escolas de segundo grau e campus universitários fossem invadidas por tropas militares, com a prisão, demissão e exílio de estudantes e professores. A perseguição se intensificou a partir do Ato Institucional Nº 5, de 1968, que possibilitou a punição severa dos chamados “agitadores” que incomodavam os militares.

Bibliografia

§  "Ditadura à Brasileira", Marco Villa (Leya, 2014)
§  "As universidades e o regime militar", Rodrigo Patto Só Motta (Zahar, 2014)

Turbulência: Modelo matemático previu onda de protestos devido a alta de preços dos alimentos

em 01/05/2014
9.fev.2014 - Na Ucrânia, manifestações populares levaram à deposição do presidente Viktor Yanukovytch

9.fev.2014 - Na Ucrânia, manifestações populares levaram à deposição do presidente Viktor Yanukovytch

Nos últimos meses, protestos na rua se tornaram cenas cada vez mais comuns ao redor do mundo. O fenômeno aconteceu na UcrâniaSíriaVenezuela e Tailândia. Muitos são os motivos dessa instabilidade política, mas, para analistas, a alta do preço dos alimentos pode explicar a eclosão de manifestações em todos esses países.
Em 2011, estudiosos do New England Complex Systems Institute levantaram uma hipótese: o encarecimento da comida poderia ser um fator predominante no início dos protestos em diversos países. O instituto usa a ciência e a matemática a favor da resolução de questões da sociedade, como crises econômicas, violência e políticas públicas.
Para o estudo, intitulado "A crise alimentícia e a instabilidade política no Norte da África e no Oriente Médio", os pesquisadores cruzaram dados da Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO, sigla em inglês) sobre a variação do preço dos alimentos no mundo com notícias de protestos recentes.

O autor da pesquisa, Yaneer Bar-Yam, descobriu que se o índice de preços da FAO aumentasse acima de 210 pontos, a tendência é que protestos emergissem ao redor do mundo. Para ele, o número seria uma espécie de “ponto de ebulição”.
Reprodução

Falta de liderança do governo

Segundo o estudo, a alta no preço dos alimentos demonstraria uma falta de liderança por parte do governo que, em situações como essa, perde o apoio popular. "Condições de ameaça generalizada para a segurança [de um país] são particularmente apresentadas quando o alimento fica inacessível para a população em geral", conclui a pesquisa.
A alta dos preços diminui o poder de compra e aumenta a pobreza da população, fatores que contribuem para a instabilidade política. Isso aconteceu em 2008, ano de crise econômica e de elevação nos preços dos alimentos. No Egito, por exemplo, o pão aumentou 50% naquele ano. Em 2008, houve a queda do presidente no Haiti e protestos no Egito, Argentina, Camarões e Moçambique.
A partir desse cruzamento de dados, em 2010, Yaneer Bar-Yam construiu um modelo matemático que previu a Primavera Árabe semanas antes dela acontecer.
No final de 2010, na Tunísia, um vendedor de frutas chamado Mohamed Bouazizi ateou fogo em si mesmo como protesto, num ato de desespero. Ele não conseguia mais sustentar sua família por causa da alta de preços. O feirante não resistiu aos ferimentos e sua morte provocou uma onda de protestos em 2011. A ação foi considerada a fagulha do movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe, uma série de levantes populares em países do Norte da África e Oriente Médio. 

Previsão em 2013

O modelo matemático previu que os preços dos alimentos bateriam recorde de aumento em 2013 e o índice de preços da FAO superaria o patamar de 210 pontos, gatilho para protestos.
Um relatório do instituto listou que os seguintes países teriam maior instabilidade política: África do Sul, Haiti, Argentina, Egito, Tunísia, Brasil, Turquia, Colômbia, Líbia, Suécia, Índia, China, Bulgária, Chile, Síria, Tailândia, Bangladesh, Bahrain, Ucrânia, Venezuela e Bósnia-Herzegovina. A previsão de protestos populares foi comprovada em todos esses países entre o final de 2013 e os primeiros meses de 2014.
Na Suécia, por exemplo, o protesto foi contra o racismo e xenofobia devido a uma alta nos atos de violência cometidos por neonazistas. Em fevereiro de 2014, protestos contra o governo também eclodiram na Bósnia-Herzegóvina, que viu levantes populares como não se viam desde o fim da guerra de 1992-1995, e Venezuela, boa parte dessas manifestações é contrária ao governo do atual presidente Nicolas Maduro.

Alta de alimentos

Segundo a FAO, o preço geral de alimentos aumentou cerca de 75% desde a virada do século. Isso se deve a diversos fatores: aumento da demanda, aumento dos custos de insumos para a produção, mudanças climáticas, aumento da produção de biocombustíveis, entre outros.
Em 2008, um relatório da ONU projetou que os preços dos alimentos devem se estabilizar somente em 2017.

No Brasil, a tendência atual é de aumento da inflação, ainda que longe dos índices da década de 1980 ou de provocar uma crise econômica grave. Em março deste ano, os gêneros alimentícios foram a categoria que mais puxou a inflação para cima. É difícil avaliar a relação desses índices com os recentes protestos brasileiros. Ainda assim, o aumento dos preços deve ser um tema importante no debate político.

DIRETO AO PONTO

Em 2011, estudiosos do New England Complex Systems Institute levantaram a hipótese de que o aumento no preço dos alimentos poderia ser um fator predominante na eclosão dos protestos em diversos países. O instituto cruzou dados da FAO (Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas) sobre a variação do preço dos alimentos no mundo com notícias de protestos recentes.

O autor da pesquisa, Yaneer Bar-Yam, descobriu que se o índice de preços da FAO aumentasse acima de 210 pontos, a tendência é que protestos emergissem ao redor do mundo. Isso aconteceu em 2008, ano de crise econômica. Em 2010 Yaneer Bar-Yam construiu um modelo matemático, que previu a Primavera Árabe semanas antes dela acontecer, em 2011.  

O modelo também previu que em 2013, os preços dos alimentos bateriam recorde de aumento. Um relatório do instituto listou que os seguintes países teriam maior instabilidade política: África do Sul, Haiti, Argentina, Egito, Tunísia, Brasil, Turquia, Colômbia, Líbia, Suécia, Índia, China, Bulgária, Chile, Síria, Tailândia, Bangladesh, Bahrain, Ucrânia, Venezuela e Bósnia-Herzegovina. Poucos meses depois, esses países viram emergir conflitos e protestos de rua.

Carolina Cunha é jornalista

Bibliografia

Justiça com as próprias mãos: Linchamentos desafiam ordem e Estado

4.fev.2014 - Adolescente de 16 anos nu é preso a um poste por uma trava de bicicleta no Rio de Janeiro
Um jovem acusado de assalto é amarrado a um poste no Rio de Janeiro. O mesmo acontece com um ladrão de 26 anos em Itajaí (SC). Em Goiânia (GO), um adolescente é espancado pela população após um furto, enquanto em Teresina (PI), um suspeito de assalto é amarrado e tem seu rosto posto em um formigueiro.
Esses são apenas alguns dos casos de linchamento ou do que se chama "fazer justiça com as próprias mãos" que ocorreram no país neste início de ano. Para especialistas e sociólogos, tais ações refletem o descontentamento e a descrença da população na Justiça e noEstado e funcionam como reação à onda de violência. Ocorrem não como medida preventiva, mas punitiva para com o suspeito de cometer algum delito.
No entanto, pelo menos no Rio, a ação não foi bem vista pela população. Pesquisa do Datafolha apontou que 79% da população reprovou a ação de justiceiros que espancaram e amarraram a um poste um suspeito de roubo de carros.

Origem dos linchamentos

A origem da expressão “linchamento” é controversa. Alguns dizem que a palavra foi criada inspirada nas práticas de Charles Lynch, que durante a guerra de independência dos Estados Unidos matava dessa forma os pró-britânicos. A hipótese mais aceita, no entanto, é que a palavra tenha sua origem ligada ao capitão norte-americano William Lynch (1742-1820), que durante a Revolução de 1780, também nos Estados Unidos, era conhecido por linchar os negros até a morte.
No passado, os “justiceiros” teriam a premissa para devolver o troco na mesma moeda por causa do Código de Hamurabi, criado em 1780 a.C., um dos primeiros códigos de leis escrito na História, também conhecido como Lei de talião, que pregava o princípio de proporcionalidade da punição, no "olho por olho, dente por dente".

Fenômeno frequente

Os últimos levantamentos sobre o tema mostram que linchamentos acontecem em grande número no país. Segundo o Núcleo de Estudos da Violência da USP, entre os anos de 1980 e 2006 o Brasil registrou 1.179 casos de linchamentos, sendo os Estados de São Paulo (568), Rio de Janeiro (204) e Bahia (180) os que apresentaram os maiores números. Ampliando a pesquisa até 2010, o Estado de São Paulo somou 662 casos de linchamentos, tendo 839 vítimas, enquanto no Rio de Janeiro foram 215 casos e 273 vítimas.
Mas essa prática “fora da lei” não é apenas uma característica do Brasil. Entre o final de março e início de abril deste ano a Argentina também registrou uma onda de linchamentos. Em dez dias foram pelos menos dez casos, sendo que um resultou na morte de David Moreira, de 18 anos, que teria supostamente tentado roubar a carteira de uma mulher que carregava o filho no colo e morreu após apanhar de uma multidão em Rosário, terceira maior cidade de Argentina, na província de Santa Fé.
Em 2013, o Egito, em plena crise política pela queda de mais um governo, viu uma série de linchamentos públicos, fruto de um momento que combinava o enfraquecimento do Estado e a desmoralização da polícia.

Volta ao Estado Natural

O comportamento livre e “justificado” dos linchadores reflete um pouco os conceitos de Estado Natural de Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632 - 1704).
Para Hobbes os homens são maus por natureza. Tal pensamento explica uma de suas mais conhecidas frases: "o homem é o lobo do próprio homem". Ao falar do Estado Natural, ele refere-se a um Estado em que o homem pode tudo, há ausência de regras e de uma instituição estabelecendo a ordem e a liberdade pode ser usada de qualquer forma, não necessariamente para fins pacíficos. É uma etapa pré-civilizatória, anterior à sociedade civil organizada, que, para Hobbes, surge não pela “boa vontade de uns para com os outros, mas o medo recíproco”. O Estado aparece, então, com autoridade absoluta para estabelecer a ordem.
Já o Estado Natural de Locke significava a ampla liberdade dos homens, mas ela não deveria ser usada para prejudicar o outro, ou seja, deve existir dentro da lei. Ao contrário de Hobbes, que acredita que a confiança no Estado deva ser absoluta, Locke diz que se houver quebra de confiança no Estado ou se este não cumprir com as suas obrigações, o povo pode se rebelar. Nessa linha, os linchamentos seriam formas de se rebelar contra um Estado em que não se confia mais.

Desordem?

José de Souza Martins, sociólogo que estuda há mais de 20 anos linchamentos no país, disse recentemente que hoje existe em média um linchamento por dia no Brasil. Em suas pesquisas, o caso mais antigo registrado no Brasil data de 1585, em Salvador (BA). A vítima foi Antônio Tamandaré, índio que liderava um movimento messiânico, tendo brancos entre seus adeptos. Foram os próprios índios que o seguiam que o prenderam, queimaram e estrangularam, além de destruir seu templo.
O sociólogo aponta que "os linchamentos que aqui ocorrem, pela forma que assumem e pelo caráter ritual que parecem ter, são claramente punitivos" e oferece outra reflexão: a de que o linchamento não seria necessariamente uma manifestação de desordem, mas pode ser interpretado como um questionamento da desordem.

DIRETO AO PONTO

O início de 2014 foi marcado por uma série de casos envolvendo linchamentos e da população fazendo “justiça com as próprias mãos” no Brasil. Os casos foram desencadeados após um grupo de "justiceiros" amarrar um adolescente nu, acusado de assalto, a um poste no Rio de Janeiro. Ações semelhantes se espalharam pelo país, boa parte registrada em vídeos postados na internet.

Para especialistas e sociólogos, tais ações refletem o descontentamento e a descrença da população na justiça e funcionam como reação à onda de violência. A sensação de impunidade e insegurança chegou também à Argentina, que também neste ano, registrou dez casos de linchamentos em dez dias, sendo que um resultou na morte do suposto ladrão.

O sociólogo José de Souza Martins, que há 20 anos estuda o assunto, aponta que "os linchamentos que aqui ocorrem, pela forma que assumem e pelo caráter ritual que parecem ter, são claramente punitivos" e oferece outra reflexão: a de que o linchamento não seria uma manifestação de desordem, mas um questionamento da desordem.

Andréia Martins jornalista

Bibliografia

  • Leviatã, Thomas Hobbes
  • Democracia em Pedaços, Gilberto Dimenstein (Companhia das Letras; 1996)
  • As condições do estudo sociológico dos linchamentos no Brasil (1995), de José de Souza Martins
  • Linchamento o lado sombrio da mente conservadora (1996), de José de Souza Martins

Violência contra a mulher: Opinião do brasileiro sobre estupro gera protestos 

Os resultados da pesquisa "Tolerância social à violência contra as mulheres", divulgada em março de 2014 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), provocou diversas reações nas redes sociais após apontar que 65,1% dos entrevistados concorda total ou parcialmente que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”.
Poucos dias após a divulgação da pesquisa, o Ipea reconheceu que o resultado estava errado. O percentual correto para a questão é 26%. Mesmo assim, a pesquisa levantou outros pontos que chamam atenção: Para a maioria dos entrevistados (58,5%), "se mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros" e para 65,1%, “mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar”.
Outros resultados apontaram que 22,4% concordam que a questão da violência contra as mulheres recebe mais importância do que merece; para 54,9% existe mulher que é para casar e mulher que é pra cama; e para 27,2%, a mulher casada deve satisfazer o marido na cama, mesmo quando não tem vontade.

Repercussão

A conclusão de que a culpa pelo crime do estupro seria da própria vítima –resultado que depois se mostrou errado-- chocou a opinião pública e gerou uma campanha nas redes sociais logo após a divulgação da pesquisa. Criado no Facebook pela jornalista Nana Queiroz, de Brasília, o movimento #eunãomerecoserestupradapropôs que o internauta tirasse uma foto de si mesmo com uma placa com o mote da campanha.
Apesar do efeito viral positivo, centenas de usuários postaram ameaças e agressões na página do evento, comprovando que o pensamento de parte da sociedade não está tão distante da pesquisa. Um dos agressores, por exemplo, segurava um cartaz com os dizeres "#eu já estuprei e estupro de novo". Outros ameaçaram as manifestantes de estupro. Organizadores do evento procuraram a polícia, que vai identificar e tentar enquadrar os agressores por apologia e intenção ao crime.
A repercussão da pesquisa foi também reflexo de acontecimentos anteriores. Na semana que antecedeu a divulgação da pesquisa, a violência contra o sexo feminino também ficou em evidência com os casos de vítimas de abusos sexuais no metrô e nos trens de São Paulo. Páginas de internautas que incentivam o assédio de mulheres no transporte público têm sido monitoradas pela polícia, como os autodenominados “encoxadores do metrô”, uma comunidade de 12 mil usuários no Facebook.
Em fevereiro deste ano, quatro anos após ter sido produzido, um curta-metragem da cineasta francesa Eléonore Pourriat fez sucesso na internet. No vídeo “Maioria Oprimida”, ela mostra como seria o mundo se os homens fossem sistematicamente alvo de ofensas físicas e verbais por mulheres, com situações que elas lidam no dia a dia. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, a diretora criticou o sexismo e disse que o filme está mais atual do que nunca. “Meu filme fez sucesso agora por que certos direitos estão ameaçados. É como uma maré negra”.
No Brasil, o site Think Olga promove a campanha “Chega de Fiu Fiu”, que pede o fim das cantadas e do assédio sexual às mulheres. Em pesquisa feita pelo site, 81% das mulheres já deixaram de fazer alguma coisa (como passear) por medo do assédio masculino na rua.
Todos esses casos revelam como o estupro e o pensamento machista ainda estão presentes na nossa cultura e nos números de violência.
Segundo dados do 7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os casos de estupros no Brasil superam os de homicídios dolosos. Em 2012, foram 50 mil casos registrados. Pelo Twitter, a presidente Dilma afirmou que os dados são alarmantes e lembrou que muitas mulheres ainda não denunciam a violência por medo e vergonha.
Atualmente, somente uma pequena parcela dos estupros chega ao conhecimento da polícia. A partir de estatísticas de atendimentos realizados em 2011 por postos de saúde e hospitais públicos, um levantamento do Ministério da Saúde estima que no mínimo 527 mil pessoas sejam estupradas por ano no Brasil. O estudo Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde revela que 89% das vítimas são do sexo feminino e possuem, em geral, baixa escolaridade. Do total, 70% são crianças e adolescentes. Para essa parcela, o maior perigo está dentro de casa - 80% dos estupros são cometidos por parentes, namorados ou conhecidos das vítimas.

Onda de conservadorismo

A luta das mulheres por direitos, ou o movimento feminista, pode ser dividida em três momentos: as reivindicações por direitos democráticos como o direito ao voto, divórcio, educação e trabalho, nos séculos 18 e 19; a liberação sexual, impulsionada pelo aumento dos contraceptivos, no fim da década de 1960; e a luta por igualdade no trabalho, iniciada no fim dos anos 1970. Hoje, grupos feministas ainda buscam avanços no que diz respeito aos direitos reprodutivos, uma briga já ganha em alguns países, mas que enfrenta o poder das alas conservadoras em outros.
A conquista destes e de outros direitos civis no Ocidente está diretamente relacionada a uma forte resposta conservadora contra o avanço dos mesmos. Nas ciências sociais, o termo usado para esse fenômeno é a palavra “backlash”. Se por um lado a sociedade está mudando, por outro, uma parcela quer manter o que já é tradicional e se mobiliza para isso.
No Brasil, no campo da política, esse efeito se reflete na aprovação de novas leis no Congresso, principalmente em temas que discutem sexualidade, saúde reprodutiva e vida familiar. Entre os exemplos estão propostas como a criação do Estatuto da Família, de autoria do pastor e deputado Anderson Ferreira (PR-PE), que reconhece como família apenas a união entre homem e mulher; o projeto da “cura gay”, do deputado João Campos (PSDB-GO); e o Estatuto do Nascituro, com o objetivo de proibir o aborto em caso de estupro – direito assegurado por lei -- e obrigar que o pai pague pensão alimentícia às crianças concebidas mesmo em uma relação sexual forçada.
Um dos principais motivos do aumento desses projetos é a ascensão nos últimos anos da chamada bancada evangélica, que conta com um número expressivo de deputados que levam para o Congresso propostas baseadas em valores e crenças religiosas. Embora o Brasil seja um Estado laico, em que religião e o Direito teoricamente não se misturam, o processo democrático permite que o deputado tenha a liberdade de apresentar qualquer tipo de proposta para votação.
No Brasil, muitas são as iniciativas de grupos de mulheres e coletivos para diminuir a violência de gênero. No Governo Federal, quem trata do tema é a Secretaria de Política para Mulheres trabalha na ampliação de campanhas para divulgar a Lei Maria da Penha, criada em 2006 e hoje o principal instrumento jurídico para coibir e punir a violência doméstica contra mulheres.
Outra ação é o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, criado em 2007 para articular iniciativas contra esse tipo de violência. Além disso, a ONU Mulheres no Brasil tem tomado medidas para acabar com a violência contra as mulheres. Entre elas, o Protocolo para a Investigação das Mortes Violentas de Mulheres por Razões de Gênero, a campanha "O valente não é violento" e o aplicativo "SOS Mulher", que faz parte de um projeto global por cidades seguras para mulheres e meninas.

DIRETO AO PONTO

Uma pesquisa do Ipea que apontou que 65,1% dos brasileiros concordam com a frase: "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas” gerou polêmica e uma reação em cadeia nas redes sociais. Embora o número tenha sido corrigido dias após a divulgação –a percentagem correta é 26%--, outros questões exploradas pela pesquisa apontam que ainda há uma presença forte do machismo na sociedade brasileira.
São exemplos os resultados que apontam que para 58,5% "se mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros" e que na opinião de 65,1% dos entrevistados, “mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar”.
A pesquisa ouviu 3.810 pessoas em maio e junho do ano passado em 212 cidades. Mesmo sendo um número pequeno de entrevistados, o resultado foi suficiente para a sociedade questionar o caráter machista que ainda ronda o país.
Somam-se a essa discussão recentes denúncias sobre assédios e abusos sofridos por mulheres no transporte público, o limite das cantadas, que gerou a campanha Chega de Fiu Fiu, e projetos propostos pela ala conservadora da política nacional que interferem na liberdade de escolha das mulheres.

Bibliografia

  • Filme Opressed Majority, de Eléonore Pourriat (Assista em: https://www.youtube.com/watch?v=V4UWxlVvT1A)
  • O Que É Feminismo, de Branca Moreira Alves e J. Pitanguy (Brasiliense)
  • Pesquisa Tolerância social à violência contra as mulheres (Ipea). Disponível em http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/SIPS/140327_sips_violencia_mulh

Golpe ou revolução: Historiadores explicam o que aconteceu em 1964

  • Oficiais militares em frente ao Congresso 1968
  • Oficiais militares em frente ao Congresso 1968
  • A história sobre o movimento que depôs o presidente João Goulart em 1964 tem diversas versões. 50 anos após o acontecido, historiadores ouvidos pelo UOL Educação explicam a diferença entre chamar de golpe ou de revolução.

    Golpe ou revolução

    Hoje é corrente o uso do termo golpe de Estado para denominar o movimento que derrubou o presidente João Goulart em 1964, mas a denominação mudou ao longo do tempo. 
  • "Você tem uma memória que se constrói ao longo desse período todo que vai se alterando. O uso de alguns conceitos implica em uma posição. Quando ocorreu o evento usava-se revolução, revolução gloriosa, redentora", explica Luiz Antonio Dias, professor de história da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
    "A expressão golpe militar passou a ser usada depois, já no final da ditadura. O golpe traz consigo a ideia de ilegitimidade, de violência."
  • O historiador da USP (Universidade de São Paulo) Marcos Antonio da Silva destaca que o golpe não se limita ao Estado e tampouco ao fato ocorrido entre março e abril de 1964. "Temos que lembrar sempre que é um processo em que a sociedade também foi afetada."
    Apesar do consenso entre estudiosos do tema, o termo revolução é usado por simpatizantes do regime militar até hoje no Brasil. "Na Argentina e no Chile, ninguém ousa não chamar de golpe", comenta Dias. 

    Golpe militar ou civil-militar

    Por muitos anos o golpe de 64 foi caracterizado como uma ação militar, mas na última década o termo golpe civil-militar passou a ser mais frequente entre pesquisadores do assunto.
    O termo golpe militar evidencia os militares como os principais agentes da derrubada do presidente Jango. No entanto, estudos apontam a importância do apoio das elites, empresários e da imprensa para a realização do golpe. 
    "Uma série de documentos foram revelados e mostram uma grande articulação de empresários, da elite e da imprensa para a realização do golpe. Antes, a sociedade civil sempre aparecia quase como vítima dos militares e os estudos mais recentes mostram uma importante articulação golpista entre os civis. Por isso temos que pensar em golpe civil-militar", considera Luiz Antonio Dias.

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